Em meio a correria do lançamento do CD, Shows, e outras responsabilidades, Gegê conseguiu um tempo para conceder uma entrevista exclusiva ao diresponsa.com.
Quanto tempo você tem de caminhada no Rap?
Mano iniciei minha caminhada em 1998 quando estava lá em Brasília, eu tinha por volta de 14 anos e comecei a desenvolver minhas primeiras rimas com um mano que eu tinha lá. Dai pra cá é só historia chapa.
O lançamento do seu trabalho solo significa o desligamento do Caos Do Subúrbio?
Não de forma alguma, o próximo cd do Caos do Subúrbio esta em processo de finalização saca. O Caos é minha faculdade mano, esse momento é como se fosse uma especialização, Di Gegê Pra Jejês é a continuidade do trabalho só que com a minha versão da parada. Esse disco está nas ruas pra preencher tempo e espaço mano, com a minha percepção sob a realidade, as rimas, reflexões e problematizações que faço. É um trabalho conceitual.
Em todo esse tempo que você tem no Rap, quais mudanças você acredita que foram mais impactantes? Creio que houveram muitas mudanças importantes, a forma de rimar evoluiu demais, as técnicas são modernas, os beatmakers estão além do seu tempo mano. Ao que diz respeito á essência da parada creio que as mudanças não são tão positivas assim, o rap naturalmente foi concebido como instrumento de luta e entretenimento ao nosso povo certo? Hoje vemos ai a musica rap “atravessando as pontes” certo, e é uma faca de dois gumes mano, eu sou um mc dos que são a favor da profissionalização do rap, e da sobrevivência a partir disso, no entanto, é o risco que corremos hoje, o emici é um musico mano, e demoramos pra entender isso tio, esquecemos que somos parte e uma arte concebida nas ruas mano, que foi gerada nos becos do mundão. Têm uma outra parada que eu penso que deveria estar melhor, a uns 10 anos atrás, sabíamos no boca a boca ou através da radio, revistas, jornais independentes o que estava rolando de novidades, shows, livros e etc, e as pessoas chegavam, a periferia chegava saca e hoje com toda a tecnologia avançada que temos, estas mesma informações não chegam e vemos o que vemos nos show e eventos que compartilhamos por ai.
Você já vive apenas para a música e da música? Se não, pretende um dia?
Ainda não mano, estamos nos organizando há tempos pra isso, o momento é de organização e alcançar esse objetivo.
Quais grupos de Rap você costuma ouvir?
Hoje estou ouvindo Caos do Suburbio, Raphao Alaafin, Familia 4 Vidas, Dk, Avante o Coletivo, Odisseia das Flores, Xemalami, Antiéticos, Criolo, Us da Rua, Bá Kimbuta, Mamuti, Rashid, Projota, Emicida, Amiri, karol de Souza e os dinossauros né mano, Rappin Hood, Gog, Racionais, Mv Bill, Kamau, Mzurissana, e muitos outros né mano, ouço muitas outras coisas né mano, venho do tempo onde tínhamos de conhecer de tudo pra ter propriedade sobre o que fala, muita musica das décadas de 60, 70, 80 e 90, gringas e nacionais, Kendrick Lamar é foda, J. Cole estou ouvindo bastante, Roots manuva, Chali2Na, Royce 59, Static Selectah, Yasin bay, Filip Neo, Rocha QI, Rincon Sapiencia, Godo, Tate, Sorry Drummer, vários mano, muita coisa mesmo e se a gente for listar não saímos daqui, eu respiro musica mano.
Qual sua opinião a respeito da polêmica criada quando alguém do mundo Rap se apresenta na grande mídia principalmente televisão?
Mano a mídia sempre quis o rap tio, só que poucos tiveram a coragem de expor a parada. O rap hoje é musica popular do mundo mano, mais no Brasil ainda não tem tal popularidade. Creio, hoje que não só tv, mais os jornais, revistas, rádios e sites já têm maior abertura pro rap, isso é um ganho se queremos de fato, popularizar o rap. O que é muito engraçado é que, o rap sempre esteve de alguma forma na tv mano, a mtv é uma emissora certo? A tv cultura é uma emissora certo? Claro que não podemos equiparar a mtv a globo mais é um dado factual sempre estivemos lá, e hoje creio que podemos se apresentar nos canais com muita competência, precisão e postura. Temos gente preparada pra ir lá sem ter de se sujeitar as condições bestiais que alguns propõem. Temos que avaliar as coisas com maior amplitude e conhecimento histórico certo.
Em sua jornada no Rap você já presenciou fases em que o Rap teve maior visibilidade, o que você acredita que falta para o Rap ganhar um espaço maior? Mano, o rap têm grande espaço, mais tá disperso e alocado em zonas de ação, se percebermos hoje, temos um local centralizado para vivenciar o rap em comunhão? Não. Podemos até pensar que a tempos atrás tínhamos ainda, a essência do hip hop mais viva do que hoje, onde a coletividade era premissa básica para o andamento das atividades. O capitalismo produziu o individualismo exagerado, o hip hop nasceu neste sistema, seria inevitável que tal ideia não se afirmaria dentro do movimento. Hoje esta tudo sectarizado, se você não pertence a este ou outro grupo, tá fora e é assim que percebo os espaços para o rap hoje, é cada um por si, canibalismo selvagem em tempos modernos. O que é uma pena, pois tanto eu quanto você e vários outros, compreendemos o hip hop, como instrumento de luta coletiva.
Pra finalizar, deseja deixar alguma opinião para ser refletida?
Primeiro obrigado ai pelo espaço, já disse a você que deveríamos ter mais espaços de divulgação como este pra nos fortalecermos e evidenciar os trabalhos compromissados que estão por ai pra que também consolidemos “nossa” mídia. A reflexão que deixo é a seguinte: Sejamos mais humanos, críticos e conhecedores, pois não estamos completos rapa, somos sujeitos em formação e é no processo que compreenderemos o mundo e ações dos homens. O hip hop é também um produto social, fruto deste mesmo processo, que esta sujeito a transformações, assim como tudo no mundo. Temos de travar as lutas que valem a pena dentro deste Caos.
Axé família.
Gegê Caos
Acompanhe diresponsa.com para ficar por dentro dos próximos lançamentos.
Curta a Fan page, adicione a lista de interesses e se mantenha atualizado através do facebook.
Tem algum trabalho e deseja expor no Diresponsa.com?
contato@diresponsa.com
